cap. 9

Não me apetecia vê-lo, não depois da maneira com que eu me tinha vindo embora, não depois do que quase aconteceu entre nós. Não o queria ver, nem agora, nem nunca! Queria apenas esquecer aquele dia como se nada fosse. Ainda pensei em voltar para o quarto e ignorá-lo, mas as boas maneiras que a minha mãe me tinha ensinado falaram mais alto

- Juliana? - Chamou-me David

- Sim? - Olhei para ele e forcei um sorriso

- Porque 'cê não está ali com o pessoal? 

- Porque estava a dormir

- Mas 'cê ia voltar para dentro... - "Rápido Juliana, pensa em alguma coisa!"

- Ah... É que... - Cocei a cabeça, não por ter comichão, mas sim porque era o que fazia quando estava nervosa - É que eu tinha-me esquecido do meu telemóvel - Não era mentira de todo, a verdade é que me tinha esquecido mesmo do telemóvel - Vou-o buscar! 

Virei costas sem deixar com que David me respondesse e fui até ao quarto, tirei o telemóvel debaixo da almofada e voltei a sair do quarto na esperança que David já não estivesse lá. Mas lá se encontrava ele, encostado á ombreira da porta, ainda tentei seguir caminho mas David agarrou-me pelo braço fazendo com que o meu corpo batesse no seu peito.

- Porque 'cê tá sempre fugindo de mim? - Perguntou-me sem nunca me largar e a olhar-me nos olhos. Eu tinha que olhar para cima e ele para baixo devido aos nossos 33 centímetros de diferença. 

- Eu não estou sempre a fugir de ti... - Desviei os meus olhos dos dele baixando a cara

- Foge sim... 'Cê fugiu ainda á bocado com a desculpa do telemóvel, ia fugir agora outra vez se eu não a tivesse puxado... - David com uma mão, pegou suavemente na minha cara e fez-me olhar de novo para ele - Fugiu na semana passada... - Disse já num sussurro voltando a começar a juntar a sua cara da minha e eu começava a deixar-me levar mas uma vez. Era impressionante como ao lado de David a minha racionalidade era capaz de ficar completamente nula, como conseguia deixar-me levar tão facilmente pelo seu encanto. Finalmente consegui largar-me dele e afastei-me 

- Não fugi vez nenhuma! - Acabei por ser um bocado bruta 

- E 'cê tá fugindo de novo...

- Mas qual fugir qual quê! Vou ter com eles que daqui a nada vêm aqui chamar-me! - Virei costas e caminhei junto deles todos, pelo caminho ainda vi Márcio que me ia acordar

- Já te ia acordar minorca! - Todos do grupo metiam-se comigo porque eu era a mais baixa

- Não é preciso ó big guy - Ás vezes, dava-me para usar expressões inglesas - Já estava mesmo a vir... 

- Tu e essa tua mania de dormir! 

- E nunca a vou perder! 

Rimos os dois e juntamo-nos a todos os outros, que era a equipa do Benfica. Conheci os que ainda não tinha conhecido e tracei uma melhor amizade com os jogadores e as suas respectivas mulheres/namoradas. Eles eram todos bastante simpáticos, nada do que as pessoas julgavam, nada do rotulo de "tipico" jogador de futebol que comia todo o rabo de saias que lhe aparecia á frente e elas não eram nada do rotulo de "tipica" acompanhante de jogador de futebol que tinha a mania e que só queria o dinheiro e a fama. Não eram nada disso, eram pessoas simpáticas e humildes. Que não gostavam de dar nas vistas, a não ser com os carrões que tinham pois isso chamava a atenção em qualquer lugar...

Nós, as raparigas estávamos todas sentadas na esplanada a conversar enquanto os rapazes estavam lá dentro a jogar play...

- Meninas, 'cês sabem o que me apetece? - Perguntou Brenda

- O que? - Perguntou logo Inês

- Ir para o mar! Tá um tempo maravilhoso e não costuma estar assim não! - A verdade é que estava imenso calor, e já não estava assim á imenso tempo

- Por mim bora! - Respondeu Elena e todas as outras acabaram por concordar.

- Ju não vens? - Perguntou-me Andreia quando elas todas estavam a levantar-se e eu mantive-me sentada

- Vou, vão andando que eu ainda tenho que ir vestir o meu bikini e vou buscar a prancha também... 


- Prancha? Que prancha? 


- A de surf...

- Sabes surfar? - Perguntou-me Andreia surpreendida

- Sim, é um dos meus grandes hobbies, juntamente com a dança! - Falei com um sorriso de orelha a orelha

- Estou aqui a ter uma ideia... - Disse com cara de quem estava a aprontar - E que tal dares-nos umas aulinhas de surf? - Eu ri-me porque pensava que ela estava na brincadeira, mas quando olhei para a cara dela apercebi-me que não

- Calma, estás a falar a sério? - Perguntei já depois de não estar a rir fazendo uma cara de parva

- Sim... Pelo menos falo por mim que sempre quis aprender e acredito que elas também... E eles lá dentro também!

- Olha, por mim na boa... Falas com eles? Enquanto eu vou vestir o meu bikini... Mas olha, o Diogo também sabe surfar portanto fala com ele também - Ela sorriu e eu fui para dentro vestir o meu bikini

Prendi o meu cabelo num rabo de cavalo alto e ainda estive a falar com a minha mãe algum tempo ao telemóvel pois segundo ela "já não queres saber aqui da mãe! já nem me ligas" E depois foi uma meia hora a convence-la que gostava muito dela e a contar-lhe o que andava a fazer por aqui... Quando saí do quarto passei pelo bar e já não se encontrava lá ninguém e depois fui até á arrecadação onde o Diogo guardava as coisas de surf e vi que já só se encontrava lá a minha prancha, por isso deduzi que estivessem todos lá fora já. 

Peguei na minha prancha e fui para a praia onde se encontravam todos nas palhaçadas a tentar aguentar-se em pé nas pranchas, os únicos que ainda se conseguiam safar era Inês, Márcio, Andreia, Elena, Carlos Martins e o David, que surfava sem duvida, bastante bem... Juntei-me a eles com um grande sorriso e depois de aquecer entrei no mar, onde tinha Andreia a chamar-me, remei até ela e sentei-me na prancha

- Já vi que para primeira vez te dás muito bem com isto! - Rimos as duas

- É, afinal tenho jeito! - Disse ela com um grande sorriso 

- Ju, olha aquela onda! - Disse-me Mariana, sorri-lhe como que a agradecer 

Estive algum tempo a divertir-me a apanhar ondas e na brincadeira com eles até que já estávamos cansados e saímos do mar para ir comer. Arrumamos as pranchas e eu e Diogo ficamos para trás, aproveitei a chamei-o

- Diogo... - Ele continuou a arrumar as pranchas ignorando-me - Diogo, estou a chamar-te! - Se havia algo que odiava que as pessoas me fizessem era ignorar-me 

- O que é que tu queres?! - Diogo acabou por ser rude 

- Quero que me digas o que é que eu te fiz para não me falares durante a semana toda! Tu mal olhas para mim Diogo! 

- Eu estou normal contigo - Diogo continuava a ser seco e não me olhava e a minha paciência estava-se a esgotar e por isso mesmo saí da arrecadação sem dizer nada.

Juntei-me a eles que estavam todos a comer sandes e sumos no bar. Fui até ao bar e fiz uma tosta de atum com sumo de laranja natural e fui-me juntar a eles, mas num canto mais sozinha, eles estavam todos á conversa animadamente e eu não estava com vontade para isso. Estava no meu mundo a comer quando sinto alguém a sentar-se no meu lado, nem me dei ao trabalho de ver quem era e continuei a comer

- Estás bem? - Perguntou uma voz feminina, olhei e vi Andreia 

- Estou - Respondi para de seguida dar uma dentada na minha tosta

- Desculpa meter-me, mas não parece... - Acho que Andreia estava a falar com algum medo que a mandasse ir dar uma volta 

- Estou bem, a sério - Disse com um sorriso forcado na cara para que Andreia não insistisse mais

- Porque não te juntas a nós? Ia-te fazer bem

- Não me apetece muito... 

- Anda lá, estamos ali todos a jogar wii... 

- Oh, está bem... Vou só acabar de comer

Andreia sorriu e foi-se juntar a eles, coisa que a mim não me apetecia nada... Mas não queria que mais ninguém me viesse perguntar o que tinha, por isso assim que acabei de comer fui ter com eles. Estivemos o resto do dia todos na brincadeira e quando a noite chegou ficou combinado cada um ir a sua casa arranjar-se e voltar para depois irmos para um bar/discoteca que Diogo conhecia.