20 julho, 2012

cap. 13

Tinha chegado da escola á pouco tempo, eram seis horas e o jogo começava ás sete e quarenta e cinco. Tinha imensas saudades de ir a um jogo, mas não queria ter que olhar para a cara de David... Assim que cheguei a casa fui direita á cozinha fazer um pão com açucar e manteira com um copo de sumo de laranja, algo que gostava imenso. Depois de comer fui até ao andar de cima e troquei a camisola que tinha usado durante um dia por uma do Benfica e pus o meu cachecol ao pulso, não levei mala por causa da confusão, pus apenas as chaves e o telemóvel no bolso das calças e estava pronta.






Como ficou combinado encontrarmo-nos na casa do Bruno, saí de casa e fui andando... Quando lá cheguei já só faltava a Mariana e pouco depois chegou ela

- Pessoal desculpem o atraso, estive a falar com o Diogo! - Assim que ela disse o seu nome uma tristeza invadiu-me, já tinha saudades dele e á imenso tempo que não falávamos.

- Ele está bem? - Perguntei meio que a medo

- Tu tens o número dele... - Mariana sempre que se falava do Diogo dava a entender que sabia de alguma coisa, mas como eu não queria saber se ela sabia ou se não, não insistia muito mais na conversa

- Está bem - Acabei por responder só mesmo para acabar a conversa

- Mas bem, vamos? Não quero chegar atrasado! - Disse Márcio. Hoje eramos só eu, o Márcio e a Mariana pois eramos os únicos que gostávamos de futebol. Diogo também gostava mas tinha ficado a trabalhar e como Bruno era do Sporting e Inês não gostava de futebol ficaram a namorar.

- Vamos! - Disse eu e Mariana ao mesmo tempo o que nos levou a rir

Como fomos de metro, Mariana e Márcio passaram o tempo todo a namorar e eu estava a ouvir musica, agradeci a todos os santinhos por o tempo de metro da pontinha até benfica demorar meros minutos porque não aguentava muito mais tempo com aqueles os dois no marmelanço.

 Assim que lá chegamos já era quase horas do jogo e aquilo estava a abarrotar de pessoas. O jogo era com o Porto, o que era algo perigoso mas isso não nos impedia de ir ver futebol. Se havia coisas que eu não suportava eram Portistas com a mania que eram bons e isso via-se muito naquele momento, estávamos os três no nosso cantinho em direção ao estádio quando um grupo de 5 rapazes, mais ou menos da nossa idade, com a camisola e cachecóis do porto foram contra o Márcio

- Tão meu? Devem ter problemas de visão vocês! - Márcio não se calou

- Não te estiques! - Vi um deles a vir para Márcio e Márcio também estava a ir na direção dele, agarrei o braço do Márcio e impedi-o de andar mais

- Márcio anda embora, com eles não vale a pena!

- Olha, olha que a menina também se quer meter!

- A menina é a tua avó! Desaparece daqui, segue com o teu caminho para ver o teu clube que nós seguimos o nosso para ver o nosso clube!

- Para além de lampiã és metediça e tens uma língua grande... Não te metas com quem não deves miúda!

- Já te disse que isso tudo é a tua avó! Agora anda Márcio, pessoas como eles não valem a pena - Empurrei o Márcio e ainda os ouvimos a insultarem-nos com nomes menos bonitos e por isso mesmo o Márcio ainda quis dar meia volta e espetar-lhes um soco na cara, nada que não fosse merecido, mas nem valia a pena e para ser realista, eles eram cinco e Márcio apenas um.

- Mor, tá quieto e anda para o jogo! - Implorou Mariana que já estava toda aflita. Nesse caso Mariana era bastante diferente de mim, eu era linguaruda nunca me calava e não tinha medo, já ela calava-se muitas vezes para não arranjar confusão

Depois daquilo seguimos para dentro do estádio sem muitas confusões e fomos para os nossos lugares, que ficavam mesmo ao lado do banco do Benfica onde os jogadores aqueciam. O jogo já estava 2-1 para o Benfica e faltavam apenas dez minutos para o jogo acabar e o estádio todo já estava em loucura total, só se ouvia os no name e pessoas que os acompanhavam. Eu tinha passado o jogo praticamente em silêncio, os meus olhos estavam sempre postos no David algo que Mariana e Márcio já tinham notado, mas eu ignorava-os. Quando faltavam apenas cinco minutos para o jogo acabar, David com um passe de Ruben só não marca golo porque Hulk em vez do pontapé acertar na bola acertou na cabeça de David que ficou deitado no chão sem se mexer e com sangue na cabeça.

Toda a gente que estava presente no estádio levantou-se e ficou a tentar perceber o que se tinha passado e eu? Eu senti o meu coração a bater a mil e as lagrimas a quererem vir-me aos olhos, mas não o fiz. Estava preocupada, mas ao mesmo tempo continuava chateada com o que ele me tinha dito no outro dia na praia... Tinha ficado chateada também porque David não me tinha procurado, sabia que ele não tinha a obrigação de o fazer, mas acho que continuava na esperança que ele o fizesse.

- Onde vão? - Perguntei assim que vi Márcio e Mariana a irem-se embora

- Então, vou ter com eles para ir com o David para o hospital! - Respondeu-me Márcio que entretanto tinha estabelecido uma grande amizade com David

- E eu? - Eu queria ir, estava super preocupada mas não o queria mostrar

- Tu vens connosco e nada de reclamar não te vais a pôr a ir de metro com a confusão toda que vai estar!

- Mas se nós iamos voltar de metro qual é a diferença?

- A diferença é que estavas acompanhada! E agora deixa de refilar, qual é o mal de vires connosco? Afinal vocês também são amigos - Ainda ninguém sabia do que se tinha passado comigo e com David, não falava sobre isso a ninguém e como era boa a disfarçar ninguém me perguntava

- Sim, pois... - Sabia que se me pusesse a arranjar muitas desculpas ia ser suspeito, por isso calei-me e resignei-me

Subimos até aos camarotes onde um segurança não nos deixou entrar por questões de segurança, nenhum de nós estrabuchou porque a verdade era que ele estava só a fazer o seu trabalho. Mariana ligou para Andreia que veio ter connosco e lá entramos nos camarotes onde estavam todos preocupados, ninguém falava naquele camarote e estavam todos pálidos do susto que estavam a viver. Parecendo que não, eles eram como uma família. Os rapazes apareceram e descemos todos até ás garagens, Mariana e Márcio foram no carro de Javi e eu fui com o Ruben a seu pedido.

Assim que entramos no carro de Ruben olhei para ele e vi os seus olhos vermelhos e a formarem pequenas lágrimas, sabia que ele estava preocupado, afinal de contas eles eram bastante unidos. Já tinham todos arrancado para o hospital, mas Ruben continuava a agarrar o volante com imensa força e a lutar para que as lágrimas não caíssem, pus a minha mão do seu braço

- Ruben, ele vai ficar bem... - Disse tentando tranquilizá-lo, assim que falei Ruben abraçou-se a mim e desatou a chorar como as crianças quando os pais não lhes dão um gelado. - Hey - Peguei na sua cara e fi-lo olhar para mim - Ele vai ficar bem! - Disse devagarinho e lutando também para as minhas lagrimas não caírem - Agora recompõe-te e conduz até ao hospital para ires apoiar o teu melhor amigo!

Ruben assim o fez, limpou as lágrimas e finalmente ligou o carro. Estávamos em silêncio até que Ruben o cortou

- Porque vieste? - Perguntou-me desviando o olhar da estrada por uns segundos

- Como assim? - Não tinha percebido aquela pergunta da parte de Ruben

- Nunca mais procuras-te o David depois daquele dia na praia... 

- Como... - Ia perguntar como ele sabia, mas ela mais que obvio que David lhe tinha contado - O David... Ele também nunca mais me procurou

- Foi o que disseste para ele fazer


- Não fui a unica


- O David ás vezes diz coisas da boca para fora - Protegeu o amigo, não o censurava se fosse comigo eu faria o mesmo

- Ás vezes deve-se pensar duas vezes antes de falar


- Isso significa que quando tu disseste para ele continuar com a vida dele e que tu continuavas com a tua não foi da boca para fora? - Não respondi a Runen, não por não querer mas aim porque as palavras não saiam. - Acho que o teu silêncio diz tudo...


- O meu silêncio não diz nada!

- Mas também não diz que não foi da boca para fora... - Entretanto já tínhamos chegado

- Olha, já chegamos não estavas tão interessado em ver o David? - Ruben não respondeu, limitou-se a sorrir.

Saímos do carro e caminhamos até á recepção onde a senhora nos disse que David ainda estava a fazer exames e que não nos podia dizer muito mais, por isso disse para esperarmos na sala de espera junto dos outros que já tinham chegado. Fomos ter com os outros e estávamos á conversa a ver se o tempo passava mais depressa até que o médico chegou e fomos logo até ele

- Ele está bem Doutor? - Perguntou o Ruben

- São os familiares de David Marinho? - Notava-se que aquele senhor alto, com os seus 60 anos, cabelo grisalho e um pequeno bigode não reconhecia ninguém que estava naquela sala. Certamente era daquelas pessoas muito sabedoras e que apenas sabia que David era jogador de futebol quando deu entrada no hospital.

- Não, mas somos os mais próximos que ele tem cá em Portugal...

- Com o impacte do pontapé o David partiu a cabeça e acabou por perder os sentidos momentos depois. Felizmente ele ficou bem e apenas precisou de uns pontos e agora só necessita de descanso. - Todos respiramos de alivio por saber que ele estava bem

- E podemos ir vê-lo? - Não sei porque mas aquilo saiu da minha boca muito rápido sem eu pensar duas vezes, Andreia e Ruben, que eram os únicos que sabiam mais ou menos o que se passava entre mim e o David, olharam para mim e sorriram.

- Sim, mas um de cada vez e o David ainda se encontra sob os sedativos portanto ainda está a dormir


- Quem vai primeiro? - Perguntou Fábio

- A Juliana - Disseram Andreia e Ruben ao mesmo tempo

- Eu? Ahm? - Fui apanhada de surpresa e não percebia o porque de ser eu a primeira visto que eles o conheciam á mais tempo - Mas vocês todos conhecem-no á muito mais tempo


- O tempo não interessa, mas sim a preferência - Disse Andreia

- Qual preferência qual quê!


- Sim, sim pois... Vai lá!

Acabei por resignar-me e ir ver o David, preferia assim "o David ainda se encontra sob os sedativos portanto ainda está a dormir " as palavras do médico ecoavam na minha cabeça, queria mesmo que ele estivesse a dormir. Não o queria encarar.

Assim que entrei no quarto vi David com uma grande compressa na cabeça e com uma maquina ligada ao seu peito. David estava sereno deitado naquela cama de hospital, mas mesmo assim eu não estava serena, o facto de David estar no hospital não ajudava em nada. Arrastei uma cadeira que estava no quarto até á cama onde David estava deitado e sentei-me junto a ele, estive algum tempo em silêncio e a "brincar" com as minhas mãos até que lentamente peguei na mão de David e apertei-a com força e comecei a falar.

- Bem... É estranho estar aqui, depois de tudo o que aconteceu... Passaram duas semanas não foi? Tenho saudades do primeiro dia... Pronto, segundo porque já tínhamos estado juntos na noite anterior, mas isto já sou eu a divagar! - Ri-me sozinha - Para onde é que foste? Quer dizer, onde está o David que eu conheci naquele dia maravilhoso? Não sei, parece que já não és o mesmo... - Fiz uma pequena pausa - Acho que o facto de me teres chamado aqueles nomes horrorosos e me teres julgado sem me deixares explicar foi a razão pela qual eu acabei por desistir... - Respirei fundo e fiquei algum tempo em silêncio - Mas sabes o que é mais engraçado? É que depois de me teres chamado aquelas coisas horríveis eu continuei e continuo a desejar que tu não continues com a tua vida como se nunca me tivesses encontrado. - Olhei para David e deu-me uma vontade enorme de o beijar - Porque? Não acreditaste porque? Julgaste-me daquela maneira porque? Eu contei-te a minha vida toda e dei-te a mostrar quem eu realmente sou, sem segredos... Apenas eu, a verdadeira Juliana! E sabes porque? Porque contigo pensei que fosse diferente... Mas pelos vistos, não foi... Sabia que já não havia nada a dizer ou mesmo que se houvesse não iria valer a pena, porque primeiro ele não me estava a ouvir e segundo nada iria mudar. - Mas bem, vou-me embora que é o melhor a fazer e há lá foram quem te queira ver... 


Dei um pequeno beijo na bochecha de David e comecei a caminhar para a porta, não o queria deixar ali queria ficar com ele até ele acordar e ter a certeza que ele estava bem, mas não o podia fazer e nem valia a pena. Abri a porta e olhei uma ultima vez para o David, virei costas e quando me estava a virar para ir embora algo me fez parar.

1 comentário:

  1. fabuloso...

    quero mais... tou super curiosa para ver o proximo...

    continua...

    ResponderEliminar