02 junho, 2012

cap. 2

Acabei por chegar mais tarde a casa do Bruno porque a meio do caminho encontrei a minha tia e ficamos a falar sobre os meus primos e coisas assim e distrai-me com as horas. Quando lá cheguei, eram já três e quarenta e cinco, estava toda a gente a bater com o pé e com cara de poucos amigos

- Oláá meus amigos lindos! Vocês sabem que eu gosto mesmooo de vocês - Tentei-me escapar do sermão que iria ouvir tentando ser fofinha e querida para eles, já que é algo que não acontece com muita frequência, mas não resultou...

-Amigos lindos o caraças Juliana! Estamos á quarenta e cinco minutos aqui á tua espera! Já te ligamos mil e quinhentas vezes e tu nada! Fogo, uma coisa é chegares dez ou quinze minutos atrasada como chegas sempre, mas bolas! Quarenta e cinco minutos Juliana?! A sério?! - Mariana de todos era a que estava mais chateada, notava isso pelo seu tom de voz e a sua cara de chateada.

- Mariana, calma! Nós também não tínhamos combinado nada e ela também deve ter uma explicação - Inês tentou intervir, mas ainda serviu para chatear mais a Mariana

- Ela tem sempre explicações! Ou é porque adormeceu, ou é porque a mãe ficou a falar com ela, ou é porque tinha alguma coisa a fazer ou isto ou aquilo! Tretas! Estou cansada que ela seja sempre aquela que deixa as pessoas á espera e a que seja sempre desculpada! Ah e tal porque teve uma infância complicada e depois mais tarde passou pelo que passou vamos desculpá-la. Ela fez de tudo para nos afastar e mesmo assim vocês continuam atrás dela e a desculpá-la! Se fosse eu, queria ver a confusão que ela fazia! - A cada palavra proferida por Mariana, era como se me espetassem uma faca no coração. Não esperava aquilo dela e magoava saber que aquilo era o que ela pensava de mim.

- Olha Mariana, não vou discutir contigo. Mas se tens alguma coisa a dizer, dizes-me a falar para mim... Não como se eu não aqui estivesse... Não tens o direito de falar assim, porque nem sempre chego atrasada e quando chego, as minhas explicações não são desculpas, são a verdade. E outra coisa que não tens o direito é de puxar os meus erros do passado para o presente, se estiveste a meu lado naquela altura foi porque quiseste... Aliás, se também continuas do meu lado agora também é porque queres, porque que eu saiba, nunca implorei a ninguém para ficar do meu lado. Fica quem quer, não quem é obrigado. - Falei calma, até demais... Se fosse á uns tempos atrás, tinha começado a gritar e a disparatar por tudo quanto era sitio, mas desta vez mantive-me calma, para meu espanto e para o de todos que estavam presentes - Márcio, dás-me as chaves do carro para pôr a mala lá atras? - Pedi para despachar as coisas e pormos-nos a caminho

- Sim, eu ajudo-te


Assim que pusemos as coisas na mala do carro, eu entrei no carro e pus os meus fones e pus no volume máximo de modo a não ouvir o que eles diziam. Queria estar no meu mundo e tentar esquecer as paladas proferidas por Mariana á minutos atrás... Sabia que não merecia que eles ainda estivessem do meu lado, depois de tudo o que lhes fiz passar, mas sabia também que eu tinha mudado, sabia que tinha feito de tudo para me "redimir" e não voltar a errar. Mas como um dia li "eras uma vez, és condenada para sempre. fazes uma coisa boa uma vez, ninguém se lembra". Tentei não dar parte fraca, mas estava complicado, fechei os olhos para não chorar e devo ter adormecido porque só me lembro de ter acordado tempos depois com o Márcio a abanar-me

- Ju... Ju... Juliana... Acorda, já chegamos... - Abri os olhos e quando olhei pela janela vi a paisagem que tanto amava. Vi o bar em que já tínhamos passado excelentes momentos todos juntos e sorri. - Estás bem? - Perguntou Márcio, referindo-se ao que tinha acontecido em Lisboa

- Tenho que estar não é? - Não queria resposta á minha pergunta. Era apenas uma pergunta retorica... Porque no final de tudo, não podemos dar parte fraca, não podemos ficar no fundo, não podemos não continuar a viver a vida. Porque se nós não o fizermos, ninguém o irá fazer por nós... Tinha aprendido a tornar-me forte e se não o fosse,  tinha aprendido ainda muito melhor a fingir que sou forte.

- Não lhe ligues... - Não deixei Márcio acabar porque já sabia o que ele iria dizer

- Não lhe ligo, vocês tiveram mais uma discussão certo? - Ele baixou a cabeça - Vocês têm que resolver as coisas entre vocês... Porque notasse que se amam, mas esse jogo do gato e do rato começa a arruinar o que vocês têm... 


Márcio nada disse, limitou-se a encolher os ombros e a ir tirar as malas do carro. Ajudei-o a levar tudo para o bar e assim que vi Diogo corri para o seu colo

- Ai que saudades Dii! 


- Eu que as diga miúda! Andas-te desaparecida durante três semanas! 


- Oh... Aproveitei para estar com a minha mãe, ela teve estes três últimos fins de semana sem trabalhar e eu aproveitei


- Eu percebo pequena, mas que olhinhos são esses?  - Diogo, melhor que ninguém, sabia conhecer-me melhor que ninguém. E ele, era a unica pessoa para quem eu era transparente.


- Os meus... Vens surfar comigo?! Estou a precisar...


- Claro que vou pequenina... Deixa-me só ir preparar então


- Eu também vou...


Fui procurar na minha mala um bikini e uns calções, prendi o meu cabelo num totó alto, fui até á sala onde o Diogo guardava as nossas pranchas, peguei na minha prancha que tanto amava e segui para o mar sem esperar pelo Diogo.




O mar estava excelente para surfar, antes de entrar no mar aqueci e depois corri até o mar. Assim que entrei, senti a diferença de temperaturas mas não quis saber e continuei . Já tinha saudades de sentir a água a vir contra mim e sentir-me a "dona" da água, "dona" das ondas. Ao longe, ouvi Diogo a chamar-me, sentei-me na prancha e esperei por ele

- Hey miúda, acalma! O mar não está propriamente calmo... 


- Não comeces a ser cortes, não me vai acontecer nada... 


- Sim, sim... No mês passado também não te ia acontecer nada e depois foi o que foi! 


- Oh Diogo, pareces a minha mãe! 


- Preocupo-me contigo, só isso! - Disse olhando-me nos olhos, o que me deixou um pouco desconfortável - Mas olha, diz-me lá o que tens


- Nada. - Não queria falar, queria apenas apanhar ondas, olhei para a frente e vi uma excelente - Vens? 


- Que ganhe o melhor!  - Disse entrando na minha "aposta"

Apanhamos a onda e foi uma ótima sensação! Tinha saudades de estar no mar... E já me tinha esquecido como ele me acalmava... Depois de Diogo sair ainda estive mais algum tempo no mar até começar a ficar escuro e mesmo assim só saí porque a Inês veio chamar-me.

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